O que são doenças inflamatórias intestinais (DII) ?
As doenças inflamatórias intestinais (DII) são um grupo de condições crônicas que causam inflamação no trato gastrointestinal, representadas pela doença de Crohn e a Retocolite ulcerativa. Ambas são consideradas doenças autoimunes, nas quais o sistema imunológico ataca os tecidos do sistema digestivo, causando inflamação crônica. As principais formas de DII são:
A Doença de Crohn – na Doença de Crohn a inflamação pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, mas os locais mais comumente acometidos são a parte final do intestino delgado (íleo) e/ou o intestino grosso. A inflamação na Doença de Crohn compromete todas as camadas da parede do intestino, podendo levar a complicações como fístulas, estreitamento da luz intestinal (estenoses) e até obstrução intestinal O padrão da inflamação costuma ser “salteado”, ou seja, áreas saudáveis do intestino podem se alternar com áreas inflamadas.
Na Retocolite ulcerativa o acometimento ocorre exclusivamente no cólon (intestino grosso) e o reto. A inflamação está limitada à camada superficial da parede intestinal (mucosa) e geralmente se apresenta de forma contínua, iniciando no reto e se estendendo de forma ascendente pelo cólon.
Quais são os principais sinais e sintomas apresentados por pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII)?
As DII apresentam sintomas variados, que podem afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Os sintomas podem variar conforme a gravidade e a localização da inflamação. Os principais sintomas são representados por:
- Diarreia crônica ou recorrente .
- Dor abdominal persistente ou recorrente
- Sangramento nas fezes
- Sensação de necessidade urgente de evacuar
- Perda de peso não intencional
- Vômitos associados a distensão abdominal recorrente
- Fadiga e cansaço extremo
- Febre baixa
- Anemia de causa inexplicada
É importante destacar que, principalmente na doença de Crohn, as crises de sintomas podem se alternar com períodos sem sintomas aparentes. Essa característica pode contribuir para o atraso no diagnóstico, dificultando a identificação precoce da doença
As doenças inflamatórias intestinais (DII) também podem provocar manifestações em diferentes partes do corpo além do trato gastrointestinal. A prevalência dessas manifestações extraintestinais varia amplamente, mas estima-se que cerca de 30% dos pacientes com DII apresentam pelo menos uma delas. As principais manifestações incluem:
- Dores nas articulações – podendo estar associada a rigidez da articulação ao acordar, inchaço e vermelhidão articular.
- Lesões na pele – como eritema nodoso (nódulos vermelhos) ou pioderma gangrenoso (úlceras).
- Sintomas oculares – uveíte e a episclerite são condições que podem ocorrer, causando vermelhidão, sensibilidade e dor nos olhos.
- Alterações no fígado – como colangite esclerosante primária.
- Aftas orais recorrentes
Por que as pessoas desenvolvem DII?
As doenças inflamatórias intestinais (DII) não possuem uma causa única definida. O seu desenvolvimento resulta de uma interação complexa entre fatores genéticos, imunológicos e ambientais, conforme descrito a seguir.
Fatores genéticos – embora exista um componente hereditário para as DII, estima-se que somente 5% a 20% das pessoas com DII têm algum parente de primeiro grau (pais, irmãos ou filhos) com a doença.
Diversos genes, que desempenham um papel crucial na regulação da imunidade intestinal, têm sido relacionados à susceptibilidade de desenvolver DII. No entanto, não existe um único gene responsável pelo desenvolvimento da doença, evidenciando sua natureza multifatorial e complexa.
Disfunção do sistema imunológico – As DII são consideradas doenças autoimunes, onde o sistema imunológico reage de forma inadequada, atacando as células saudáveis do trato gastrointestinal. Esse ataque pode ser desencadeado por alterações na microbiota intestinal ou por estímulos externos.
Alterações na microbiota intestinal – O desequilíbrio na composição das bactérias intestinais (disbiose) pode ativar o sistema imunológico, contribuindo para a inflamação crônica. Fatores como dieta pobre em fibras, alto consumo de alimentos processados e o uso frequente de antibióticos podem prejudicar a microbiota.
Fatores ambientais – diversos fatores ambientais podem estar associados a um maior risco de desenvolver doenças inflamatórias intestinais (DII), embora nenhum deles, isoladamente, seja considerado a causa principal. Entre esses fatores estão dietas ricas em gorduras e pobres em fibras, infecções, exposição a toxinas ambientais, sedentarismo e o estilo de vida sem hábitos saudáveis.
Resposta a fatores de estresse – eventos estressantes e fatores emocionais podem estar associados à piora dos sintomas e ao desencadeamento de crises.
O avanço nas pesquisas sobre os fatores contribuintes para o desenvolvimento da DII pode abrir caminho para a identificação de estratégias mais eficazes na prevenção do surgimento da doença.
Por que muitos pacientes demoram a receber o diagnóstico de DII e qual a importância de diagnosticar precocemente?
A demora no diagnóstico de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) ocorre devido a diversos fatores. Os sintomas iniciais, como diarreia, dor abdominal e cansaço, são frequentemente confundidos com outras condições, como infecções gastrointestinais ou síndrome do intestino irritável. Além disso, a variabilidade na apresentação clínica das DII, com períodos sem sintomas alternando com períodos de crise, pode atrasar a busca por atendimento médico. A falta de conhecimento sobre a doença, tanto por parte dos pacientes quanto de profissionais não especialistas, também contribui para a demora em levantar a suspeita e iniciar a investigação adequada. O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento adequado são estratégias fundamentais para permitir controlar a doença e melhorar a qualidade de vida do paciente e reduzir o impacto a longo prazo.
Como é feito o diagnóstico de DII?
O diagnóstico de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) é como montar um “quebra-cabeça”, que exige a integração minuciosa de várias peças para se chegar à conclusão final. Não há um exame isolado que seja determinante para o diagnóstico de DII. Por isso, é fundamental uma história clínica detalhada e avaliação médica minuciosa, avaliadas em conjunto com os dados obtidos através de exames.
Somente por meio dessa abordagem abrangente é possível confirmar o diagnóstico com segurança e excluir a possibilidade de diversas outras condições que podem simular os sintomas de DII . Abaixo estão os exames mais comumente utilizados na investigação, cuja indicação será sempre personalizada de acordo com as características individuais de cada paciente.
- Exames endoscópicos com biópsias, como a colonoscopia, endoscopia e entersocopia.
- Cápsula endoscópica
- Exames de fezes, como calprotectina fecal;
- Exames de sangue para avaliar inflamação e anemia;
- Estudos de imagem, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada.
Há cura para a DII?
As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) não possuem cura, mas através do tratamento adequado é sim possível controlar os sintomas, promover a cicatrização da inflamação intestinal e assegurar a recuperação da qualidade de vida de forma duradoura. Estudos científicos comprovam que iniciar um tratamento apropriado e precoce aumenta significativamente as chances de atingir esses objetivos.
Qual é a importância de o paciente com DII manter um acompanhamento médico regular?
O acompanhamento médico regular é essencial para pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII) devido aos seguintes motivos:
- Monitoramento da Doença: A DII é uma condição crônica e pode variar em gravidade ao longo do tempo. Consultas regulares permitem avaliar a atividade da doença, identificar alterações nos exames, que podem ocorrer mesmo na ausência de sintomas, e ajustar o tratamento conforme necessário.
- Prevenção de Complicações: O acompanhamento ajuda a detectar precocemente possíveis complicações, como obstruções intestinais, fístulas, abscessos ou o risco aumentado de câncer colorretal, especialmente em casos de longa duração.
- Ajuste de Tratamento: As respostas aos medicamentos podem mudar com o tempo e alguns medicamentos podem perder o seu efeito. E isto pode ocorrer mesmo na ausência de sintomas. O acompanhamento regular é essencial para que o médico possa identificar a necessidades de mudança de medicações, ajuste de doses, troca de terapias ou introduzir novos tratamentos.
- Acompanhamento de Efeitos Colaterais: Muitos medicamentos usados no tratamento da DII, como imunossupressores e biológicos, podem ter efeitos colaterais que precisam ser monitorados para garantir a segurança do paciente.
- Orientação Nutricional e Estilo de Vida: O médico pode fornecer orientações sobre alimentação, suplementação e mudanças no estilo de vida que ajudam a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
- Gerenciamento de Manifestações Extraintestinais: A DII pode causar sintomas fora do trato gastrointestinal, como problemas oculares, articulares ou cutâneos, que precisam de acompanhamento especializado.
- Promoção da Qualidade de Vida: O suporte médico contínuo ajuda o paciente a compreender melhor a doença, controlar os sintomas e viver com mais conforto e confiança.
Portanto, manter o acompanhamento regular é a melhor forma de garantir que a doença permaneça controlada, além de promover uma vida mais saudável e equilibrada.
Quais hábitos devo adotar para prevenir o agravamento das DII?
Para prevenir o agravamento das doenças inflamatórias intestinais (DII) e melhorar a qualidade de vida, é essencial adotar hábitos saudáveis que ajudem a controlar a inflamação e a minimizar complicações. Listo a seguir algumas recomendações importantes:
Siga o tratamento médico regularmente
- Tome os medicamentos conforme orientado, mesmo se sua doença estiver controlada.
- Mantenha o seguimento nas consultas regularmente para monitorar a doença e ajustar o tratamento quando necessário.
Mantenha uma alimentação saudável e equilibrada
- Identifique quais alimentos que desencadeiem os seus sintomas e evite-os.
- Consulte um nutricionista especializado para adaptar a dieta às suas necessidades.
- O acompanhamento com um nutricionista especializado é muito importante para assegurar uma nutrição adequada, evitando restrições desnecessárias e garantindo uma dieta que inclua os nutrientes importantes.
- Prefira alimentos ricos em nutrientes, como frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais (quando tolerados).
- Evite o consumo excessivo de carne vermelha, prefira a carne branca ou outras fontes de proteína.
Evite alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar:
- Alimentos ultraprocessados e industrializados, como embutidos (salsichas, salame, linguiça), snacks/ salgadinhos, alimentos congelados e aqueles pré-preparados devem ser evitados, pois são sabidamente prejudiciais aos portadores de DII e à saúde em geral.
- Alimentos muito ricos em açúcar como doces, bolos e sobremesas industrializadas também devem ser evitados.
Cessar o tabagismo: O tabagismo é um fator comprovadamente associado ao agravamento da doença de Crohn e uma pior resposta ao tratamento. Por isso, cessar o tabagismo é uma recomendação essencial para pacientes com doença de Crohn
Gerencie o estresse: Pratique técnicas de relaxamento, como meditação, yoga ou respiração profunda. O acompanhamento psicológico é muito importante para auxiliar alguns pacientes a lidarem com os impactos emocionais que a doença pode trazer.
Pratique atividade física regular: Exercícios moderados ajudam a reduzir a inflamação, melhorar o humor e fortalecer o sistema imunológico. Escolha atividades que você goste e que respeitem suas limitações físicas.
Hidrate-se adequadamente: Beba água suficiente para evitar desidratação, especialmente em casos de diarreia frequente.
Evite o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) sem orientação médica: medicamentos como ibuprofeno, nimesulida e diclofenaco podem agravar a inflamação e piorar os sintomas da doença. Para o manejo da dor, prefira os analgésicos, e não os anti-inflamatórios. São exemplos de analgésicos: dipirona, paracetamol, tramadol ou codeína. O uso deve ser sempre seguindo as orientações do seu médico e considerando possíveis alergias ou restrições individuais.
Monitore sinais de alerta: esteja atento a mudanças nos sintomas, como aumento da diarreia, dor abdominal ou febre, e informe o médico imediatamente.
Durma bem: O sono de qualidade é fundamental para fortalecer o sistema imunológico e ajudar na recuperação do organismo.
Evite o consumo excessivo de álcool: O álcool pode irritar o trato gastrointestinal e interferir na eficácia de alguns medicamentos.
Adotar esses hábitos saudáveis pode ajudar a prevenir o agravamento das DII, melhorar o controle da inflamação e proporcionar uma vida mais equilibrada e confortável.
Se eu tenho doença de Crohn, minha condição é mais grave do que a Retocolite ulcerativa?
Não é correto afirmar que a doença de Crohn é inerentemente “mais grave” que a retocolite ulcerativa. A gravidade de ambas as condições varia amplamente e depende de fatores individuais, como a intensidade dos sintomas, o impacto na qualidade de vida, o grau de inflamação, a extensão da doença, a presença de complicações e a resposta ao tratamento. Embora a doença de Crohn possa demandar um manejo mais complexo, isso não significa que seja intrinsecamente mais grave que a RCU. Ambas as condições podem se manifestar em formas leves, moderadas ou graves. Cada caso é único. O mais importante é entender que, seja na Doença de Crohn ou na RCU, o tratamento e acompanhamento adequados são essenciais para prevenir o agravamento da doença.
O tratamento é para a vida toda?
Sim, o tratamento das DII geralmente é contínuo e para toda a vida. Isso ocorre porque as DIIs são condições crônicas que, embora possam ser controladas, não têm cura definitiva. O objetivo do tratamento a longo prazo é:
- Manter a remissão: significa controlar a DII de forma que os sintomas desapareçam ou sejam mínimos, e a inflamação no intestino fique sob controle.
- Melhorar a qualidade de vida: para que paciente tenha uma vida com qualidade e retome a sua rotina com família, trabalho e amigos.
- Prevenir novas crises
- Minimizar os danos intestinais e o surgimento de complicações como abscessos, fístulas, estenoses , necessidade de cirurgias ou risco de câncer.
Embora o tratamento seja contínuo, ele pode ser ajustado conforme as necessidades e condições específicas do paciente, com períodos de maior ou menor intensidade terapêutica. Um acompanhamento médico regular é essencial para garantir ajustar as estratégias conforme necessário.
Qual o melhor tratamento das DII?
Os tratamentos para doenças inflamatórias intestinais (DII) evoluíram consideravelmente nos últimos anos, com uma expansão contínua das opções de medicamentos. A escolha do tratamento deve ser cuidadosamente individualizada, levando em conta uma série de fatores, como a gravidade dos sintomas naquele paciente, as características específicas da sua doença, particularidades do paciente (idade, outras doenças associadas, história pessoal), o perfil de segurança da medicação, o histórico de resposta a tratamentos anteriores, a presença de complicações e as preferências individuais do paciente.
Essa abordagem personalizada tem como objetivo alcançar metas claras, como o controle eficaz da doença, a remissão dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida. Costumo enfatizar que o melhor tratamento é aquele que permite ao paciente atingir esses objetivos de forma eficaz e sustentável. É importante destacar que uma mesma terapia pode gerar respostas diferentes entre os pacientes, influenciadas pelas características individuais e pelos fatores mencionados.